Já escrevi um post com 10 motivos para gostar de Ivan Dodig, mas 10 motivos estão longe de descrever o que é Ivan Dodig. Espero conseguir passar um pouco da essência de tudo o que o croata fez em sua carreira e o que o torna um dos homens mais interessantes do circuito neste singelo post.

Fiquei bastante emotiva depois dessa final que ele e o Marcelo fizeram em Wimbledon. Mais do que isso, fiquei orgulhosa. Conheci o Ivan por intermédio de Marin Cilic, que é meu tenista (sem mononucleose) favorito, em meados de 2010. Os dois são melhores amigos, nasceram na mesma cidadezinha na Bósnia e Herzegovina e treinavam juntos desde pequenos. Marin faz questão de citar Ivan como melhor amigo, como o cara que sempre o inspirou a continuar. Ele também já declarou que simplesmente não consegue se concentrar totalmente nas partidas contra o Ivan, porque ele sempre será seu ‘irmão’ e as partidas sempre parecerão amistosos.

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Pra mim, Ivan é o maior exemplo que um juvenil pode ter. Passou por todas as dificuldades possíveis, mas não desistiu. Nem se quer pensou em desistir, seguiu em frente pra completar o sonho de ser um tenista.

Dodig descobriu o tênis com 8 anos de idade, e assim que a raquete tocou em suas mãos, pode perceber que aquele ele era seu esporte. O sentimento de competir, aliado ao talento natural bastaram para o pequeno Ivan. Quando começou a ter bons resultados em torneios, decidiu dedicar-se totalmente ao tênis. Mas tinha um problema: o local de treino mais próximo de sua casa requiria 3 horas andando. Então, em todas as manhãs, Ivan levantava às 6 da manhã e andava por 3 horas para aí sim treinar.

O trabalho e a dedicação trouxeram resultados e Ivan virou profissional em 2002, com 17 anos de idade. Então começou a jogar torneios satélites e futures, buscando o seu melhor. Porém, o que parecia ser um conto de fadas, tornou-se um verdadeiro drama. Jogar torneios satélites e futures significa jogar em lugares longínquos, estranhos e nada usuais. Para Ivan, que não tinha dinheiro, não foi nada fácil. Passou dois anos apenas disputando os poucos torneios de Croácia e Bósnia, por não ter dinheiro. Dormia em seu velho carro, em rodoviárias e aeroportos, pois assim economizava e garantia que tivesse algum dinheiro para pagar as despesas e disputasse o próximo torneio.

E assim foi levando sua vida, com muita dedicação. Ele sabia que precisava ganhar partidas, para ganhar dinheiro e assim, seguir seu sonho. Eu sinceramente acho que é daí que vem o coração gigantesco de Ivan Dodig. O croata aprendeu a dar o máximo quando entra em quadra. Faz questão de jogar o seu melhor tênis em cada partida e jamais desistir. Ele acredita.

Toda a persistência, o trabalho duro e a vontade de ser um campeão começaram a dar resultado em 2005. Foi neste ano que Ivan ganhou seus primeiros títulos, nas duplas, em dois futures na Croácia. Já em 2006, finalmente conquistou seu primeiro título em simples, na Bósnia, e em seguida na Nigéria. Com essa vitória na África, Ivan conseguiu entrar no top 500 da ATP e foi quando sua vida mudou completamente. Decidiu morar em Halle, Alemanha e começou a treinar na academia BreakPoint, no qual o diretor é Jan de Witt, técnico de Jarkko Nieminen, Gilles Simon e outros grandes nomes. Lá, Ivan pode melhorar seu físico e trabalhar seus golpes. Com o apoio de todos da academia, principalmente de Martin Stepanek, que hoje é seu técnico, Ivan sentiu-se mais seguro. Sentiu que finalmente alguém acreditava nele. Seu ranking foi melhorando e os anos passando.

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2010, o ano das mudanças. Iniciou com o ranking de 180º e perdendo na primeira rodada do qualifying de Doha. Foi para a Austrália, com o sonho de jogar pela primeira vez na chave principal de um grand slam. Uma, duas, três vitórias. Furou o quali e não parou por aí. Eliminou Juan Carlos Ferrero, então 23º do mundo, na sua estreia em chave principal. 2010 também foi o ano que Ivan jogou sua primeira partida pela Croácia em Copa Davis. Mas nada disso se compara com o maior momento de sua carreira: após vencer o challenger de Astana, no Cazaquistão, Dodig finalmente entrou para o top 100. Esse sempre foi seu maior objetivo, estar entre os 100 melhores, aonde merecidamente permanece.

2011, o ano de concretizações. Em Zagreb, Ivan não teve um caminho fácil, tendo que enfrentar o cabeça de chave 2 e compatriota Ivan Ljubicic no caminho. Chegou na final, onde encarou o alemão Michael Berrer. Match point. Ace. A torcida foi ao delírio, comemorou, Ivan jogou a raquete para a torcida e aproximou-se para cumprimentar o adversário. Mas Berrer não estava na rede. O juiz de cadeira havia corrigido a marcação e a bola foi cantada fora. Ivan não acreditava e pensava ‘E agora, o que devo fazer?’. Não tinha muito o que pensar e muito menos o que fazer. Recolheu a raquete e voltou para a partida. O match point que não aconteceu, para mim, resume bem o que é Ivan Dodig. A dificuldade apareceu, ele aceitou e deu a volta por cima com uma força mental que poucos tem. Apagou da mente o que tinha acabado de acontecer e foi o campeão do torneio, ovacionado pela torcida. Seu primeiro título de nível ATP, e em casa.

Goran Ivanisevic estava comentando essa partida. “Ivan me pediu alguns conselhos antes da final. Ele seguiu exatamente o que eu disse. Era incrível como ele prestava atenção em tudo o que eu dizia. Ele gosta muito de aprender. Sabe, esse cara é especial.  O jeito que ele conseguiu tudo sozinho, com ninguém o ajudando quando mais precisava, é incrível.”

2011 também foi o ano de outra grande vitória. Dodig é do tipo que gosta de enfrentar grandes adversários. Não tem medo dos melhores. A vida lhe ofereceu adversários maiores do que simplesmente entrar em quadra e enfrentar Rafael Nadal. O espanhol provou um pouco do coração guerreiro de Ivan em Montreal. Após perder o primeiro set por arrebatadores 6/1, o croata entrou motivado para o segundo set. Parecia estar começando outra partida, com outro rumo e uma nova atitude. Ivan ganhou o segundo set no tie-break e a motivação cresceu. Ele queria muito aquela vitória, nada o pararia. Terceiro set, um novo tie-break. Minutos depois, o juiz de cadeira anuncia sua vitória. Ivan Dodig havia derrotado Rafael Nadal. A ficha parecia não ter caído, ele não acreditava no que tinha feito. No fim daquele ano atingiu o seu melhor ranking, 32º.

2012, o ano-terapia. Foi um ano marcado por uma lesão nas costas que o impediu de jogar seu melhor tênis e defender os pontos das campanhas brilhantes de 2011, o que o levou a cair no ranking e sair do top 100. Conseguiu voltar para o grupo dos 100 melhores fazendo semifinal em Valencia e terminou o ano com um único desejo: ficar livre de lesões.

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2013 tem sido o ano de recompensas. Longas partidas, superação e a demonstração de seu valor a cada ponto que joga. Boas campanhas em grandes torneios e os holofotes voltaram a apontar para o croata. Afinal, agora ele é finalista de Grand Slam. Quem diria que aquele menino persistente, que gostava de sonhar, estaria levantando o troféu de vice campeão no torneio mais desejado do tênis?

Foto: Julian Finney/Getty Images Europe
Foto: Julian Finney/Getty Images Europe

Hoje, um ano e meio depois, Ivan Dodig volta a figurar no top 40 de simples e entrou no top 20 de duplas. Mais do que números, pode olhar pra trás e ver que valeu a pena ter acreditado. Que um homem pode sim, sonhar. Que a determinação o levou para o sucesso. Que vitórias e derrotas não o definem, e sim o que ele fez para chegar aonde chegou. E que Ivan Dodig é um verdadeiro campeão.

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5 comentários em “Mais do que motivos.

  1. História do Dodig lembra um pouco a do Dustin Brown: “morar” num carro, dormir em rodoviárias, etc.

    E com certeza, eles não são os únicos, são apenas os que conseguiram superar essas dificuldades todas e chegar ao grupo dos melhores do mundo. Muitos(as) jovens tenistas que passaram por situação parecida, talentosos ou não, devem ter ficado pelo caminho.

  2. Texto emocionante, adorei!!
    Histórias como essa inspiram a nossa vida, o que a persistência pode conquistar.
    Parabéns, Ivan! Ah, parabéns, Aliny!

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