Eu precisava escrever em algum lugar sobre esse caso de doping de Marin Cilic. A ITF soltou um comunicado completo de todos os acontecimentos ditos pelo atleta na audiência que ocorreu no dia 13 de setembro. Ele é o meu tenista (sem mononucleose) favorito e eu não estou aguentando mais ler coisas pra lá e pra cá sobre. Vejo muitas pessoas perdidas com esse caso, e até comentando coisas erradas, então resolvi explicar, através do comunicado, o que realmente aconteceu.
Marin Cilic foi pego no doping por uma amostra de urina dada no torneio de Munique, no dia 1 de maio deste ano. O exame detectou uma substância chamada niquetamida, proibida nas regras da ITF. Recebeu por e-mail uma carta no dia 11 de junho informando o teste positivo e assim suspendeu suas atividades voluntariamente. O atleta informou que não teve intenção de aumentar sua performance, sendo assim ingerido sem o conhecimento da substância proibida.
O que aconteceu, detalhadamente:
- Marin recebe suplementos do Comitê Olímpico Croata, porém glicose não é coberta pelo comitê, assim tendo que comprar por conta própria.
- Foi aconselhado por seu preparador físico, Slaven Hrvoj, a tomar glicose para repor as faltas em seu organismo.
- O tipo de glicose que Marin ingere normalmente é em pó, comprada na Croácia.
- Entre os dias 15 e 18 de Abril, Cilic percebeu que seu estoque de glicose estava baixo e pediu para sua mãe comprar mais em uma farmácia perto de seu apartamento em Monte Carlo. Entre os dias 18 e 20 de Abril, Koviljka, mãe do atleta, foi até a farmácia e pediu claramente por ‘glicose para seu filho que é tenista profissional’. Não sendo fluente em inglês, pediu a ajuda para uma pessoa fluente, que repetiu para a balconista que ‘era para um atleta profissional’. A balconista forneceu um pacote de glicose em pílula que continha ‘Coramina’ escrito em letras maiores.
- Marin questionou o porquê de a glicose estar em forma de pílula, em vez de pó, como está acostumado. Sua mãe respondeu que não havia qualquer outra forma de glicose na farmácia.
- Após dar uma olhada rápida nos ingredientes listados na frente da caixa, Marin pensou que “nicéthamide” fosse nicotinamida, uma substância permitida, ao contrário da proibida niquetamida.
- A ITF fornece todo o tipo de conhecimento anti-doping que um tenista precisa saber, incluindo uma linha de telefone aberta 24 horas para perguntas.
- Marin não utilizou os serviços da ITF por usar glicose por muito tempo e, como fez vários exames anti-doping, todos com testes negativos, achou que não teria nada de errado, além de pensar que os ingredientes eram seguros. Nem passou por sua cabeça que havia algo errado ali.
- Ele tirou uma foto do produto e mandou para Hrvoj pelo celular, perguntando se a dose de glicose estava correta para ser tomada.
- Hrvoj, que não possui nenhuma formação farmacêutica ou nutricional, não sabia o que era Coramina e pensou que era o nome comercial do produto. Sem procurar em qualquer lugar, Hrvoj respondeu que a dose de glicose do produto era baixa, assim aconselhando-o a ingerir duas pílulas por dia, junto de sua creatina usual.
- Após treinar em Monte Carlo, Marin encontrou-se com Hrvoj em Munique para o torneio. Como sabia que seu preparador físico havia levado a glicose em pó em que estava acostumado, deixou as em forma de pílula em sua casa em Monte Carlo.
- Um professor de uma escola de farmacologia confirmou por testes que a performance de Marin Cilic não foi alterada pelo medicamento.
- Do período em que chegou em Munique, até sua primeira partida, de 27 a 30 de abril, Marin não ingeriu mais nada das pílulas.
- No dia 1º de Maio, entrou em quadra em seu primeiro jogo pelo torneio e perdeu. Após a derrota, foi selecionado pelo anti-doping.
- No dia 11 de junho, recebeu uma carta do comitê anti-doping informando o teste positivo, antes de sua primeira partida de simples do torneio de Queen’s.
- Hrvoj, após uma pesquisa na internet, descobriu que a substância presente no suplemento era proibido
- No dia 26 de junho, após jogar a primeira rodada de Wimbledon, foi instruído por seus advogados de se voluntariar e desistir do torneio.
- Desistiu do torneio alegando problemas no joelho, para evitar quaisquer tipo de comentário pela mídia antes que seu caso fosse aos tribunais. (Isso é o que diz no full report da ITF. Tanto eu quanto Marin não confirmamos isso. Ele inclusive jogou várias partidas antes com o joelho enfaixado)
- No dia 27 de junho, escreveu uma carta endereçada à ITF, justificando ingestão não-intencional, via pílulas de glicose.
- No dia 6 de agosto, o atleta requiriu uma audiência com o Tribunal Anti-Doping para se explicar.
- A audiência aconteceu no dia 13 de setembro.
- O tribunal chegou às conclusões de que 1) a substância niquetamida é proibida, 2) a justificativa dada pela tenista é aceitável, 3) os resultados, pontos e premiações recebidas durante o período entre 1º de Maio e 26 de Junho seriam desconsiderados e devolvidos.
- O tenista recebeu uma punição de 9 meses, começando no dia 1º de Maio de 2013 e terminando em 31 de Janeiro de 2014.
- Marin já declarou que tentará diminuir sua pena, apelando para a Corte de Arbitração do Esporte.
(Um comentário sincero de uma fã: MANO, ELE É INOCENTE, É GENTE BOA, É TUDO DE BOM, DIMINUAM ESSA PENA QUE EU TÔ COM SAUDADES, PELO AMOR DE DEUS.)
Mas se a justificativa é aceitável e reconheceram que a ingestão não foi proposital, por que a punição?
Além de ser substância proibida, o cabeçudo não foi atrás de informações do produto. Sendo testado positivo, já dá punição.
E bem, a punição real era de dois anos. Foi para 9 meses pela colaboração na investigação que ele deu.
Uma sucessão de pequenos erros dos mais inocentes é uma pena.
Mesmo sabendo que você é fã Aliny, não sei se nove meses, mas uma punição era necessária, afinal o Troicki também tá punido por uma idiotice. Não estou comparando os casos.
Eu só acho estranho que o mesmo tribunal que condenou o Cilic, reduziu uma pena de doping ano passado baseado em um depoimento, por telefone, do Roddick em favor do ucraniano que foi pego.