A frustração com a falta de transmissão de jogos de duplas continua. O assunto mais discutido deste espaço voltou com o de sempre: explicações, reclamações e nenhuma solução.

Vamos pelo começo. As categorias que mais sofrem com a falta de transmissão são os ATP 500 e Masters 1000. Os 500 acabam tendo a transmissão restrita aos países em que os torneios são disputados e apenas se a emissora oficial demonstrar interesse, como vimos no Rio de Janeiro com o Sportv. Na internet, a TennisTv também fica sem os direitos televisivos.

E os Masters 1000, então? Que drama. São os torneios em que o pessoal de simples mais comparece na chave de duplas, o que alavanca o interesse do público em assistir as partidas dos grandes nomes do circuito em parcerias inusitadas. Nos torneios, as arquibancadas lotam para ver Djokovic e Wawrinka em ação. E em casa? Bem, em casa a gente assiste uma telinha preta com os nomes ‘Djokovic’ e ‘Wawrinka’ e o placar do lado, e reclamamos nas redes sociais, sem sucesso. Sim, ele, o livescore. O eterno companheiro durante toda a temporada, já que só podemos assistir duplas nos Grand Slams e alguns 250. Estes últimos estão sofrendo com os cortes de transmissão também, diferente de alguns anos atrás, nos quais era possível ver qualquer partida em quadras com transmissão.

Temos câmeras nas quadras, partidas nestas mesmas quadras, interesse das pessoas que estão em casa e ainda sim não é digno de transmissão. As câmeras são desligadas e cobertas. Grandes nomes, grandes partidas, grande público e pequena força de vontade demonstrada pela ATP. O engraçado é que a própria ATP revolucionou todo o formato das duplas com o discurso de que encurtando a duração das partidas faria com que o número de transmissões e de interessados aumentasse. Também prometeram uma divulgação melhor dos duplistas, com mais notícias no site. Só que desde que isso aconteceu, as transmissões ficaram cada vez mais escassas e a divulgação continuou a mesma, quase como políticos em campanha, com muitas promessas e nenhuma resolução após a eleição neste pequeno país chamado duplas. O público estagnou, já que não tem o que assistir ou como poder conhecer um pouco mais dos grandes duplistas. Uma grande e desastrosa bola de neve continua rolando ladeira abaixo, sem previsão de fim.

É importante lembrar que nós tentamos chamar a atenção da ATP com o abaixo-assinado, também sem sucesso. A repercussão foi mundial e contamos com o apoio de vários tenistas. Os próprios tenistas, aliás, continuam insatisfeitos com essa falta de acessibilidade e de divulgação e voltamos à estaca zero, de muitos negativos e poucos positivos.

Assim, as duplas estão vivendo em uma bolha, num mundo isolado do tênis com holofotes. Impossibilitado de crescer, sem um marketing bem feito e sem oferecer ao possível novo público um bom material, como transmissões de partidas e notícias nos grandes sites, fica a sensação de impotência. O público reclama, os tenistas reclamam e nada acontece. Todos são ignorados e a bolinha continua rolando longe dos nossos olhos, sabe-se lá até quando.

Opinião dos tenistas
Marcelo Melo: Hoje as simples tem uma mercado muito maior que as duplas, maioria dos jogos são transmitidos, etc. Com isso, a prioridade na programação acaba sendo das simples. Mesmo assim ainda vejo um interesse grande do público para assistir as duplas, acontece várias vezes da quadra ficar cheia quando uma dupla e programada em um horário nobre na quadra central. Eu acho que os torneios podem ajudar muito mais, especialmente na promoção das duplas‎. Algumas vezes o torneio tem duplas entre as 5 melhores do mundo e não promove para o público. Quando acontece a promoção das duplas, como no caso do torneio de Auckland, em que todos os dias tem uma dupla na quadra central, os jogos ficam cheios. O público gosta de assistir duplas, porém precisam organizar bem na hora de programar.

Bruno Soares: O reconhecimento do público mudou, principalmente no Brasil, está maior. Raramente eu era parado na rua e de uns tempos pra cá aumentou. Obviamente não sou um Guga, que era uma loucura por onde passava, mas mudou sim. Um cara reconhece e vem dar os parabéns e nos torneios aqui no Brasil, que é um ambiente com pessoas que gostam de tênis, acaba sendo maior.

É, estamos (conselho de jogadores) indo. É uma briga constante com a ATP pelo formato de como as coisas funcionam e de como as decisões são tomadas, porque tem também o conselho de diretores, então não depende só da gente.

A organização influencia sim, tem alguns lugares em que o público local gosta de duplas, como é o caso de Auckland, que coloca duplas no horário noturno, antes de simples, está sempre cheio. Nos EUA também, vai de cada lugar. Tem torneio que não gosta. Com o Kermode, o Finals no O2 ficou bacana, com duplas seguido de simples em cada sessão, isso ajuda e fica sempre cheio.

A promoção do esporte e dos jogadores é essencial. O público se identifica com as duplas, é mais praticado nos clubes. Nos EUA, com os Bryans, a quadra está sempre cheia. No Brasil, quando eu e o Marcelo estamos jogando, fica sempre cheio também. Com uma promoção global e maior, as pessoas vão passar a conhecer, se identificar e acompanhar muito mais as duplas.

O marketing está melhorando. Não só na dupla, mas em simples também, de maneira geral mesmo. Eles promovem mais os jogadores no top 4 e top 10. O resto fica muito pra trás, obviamente tem que ter uma atenção maior no top 4, já que atraem e levam coisas boas pro esporte, mas eu acho que tem que ter uma promoção dos jogadores de menos destaque, que não tem um ranking alto mas estão no top 50, e o pessoal da dupla, pois compõem o circuito. Isso está mudando muito, o conselho está batendo nessa tecla, mas demora para mudar

Transmissão é realmente o que a gente está batendo muito na tecla com o pessoal do conselho, justamente isso. Foram fechados alguns contratos da ATP com empresas para venda de transmissões. Nesses contratos, antigamente, a parte de tv era muito maior do que na parte de internet, porque esse negócio de internet é muito recente, agora a cultura mudou. Hoje, o pessoal diz que a dupla não tem muita cobertura, mas se parar para pensar, o único local que tem cobertura mesmo é a quadra central. É a única quadra que em todos os torneios você vai ter certeza que terá transmissão. De todas as partidas que tem, você tá mostrando só a quadra central. A dupla só vai entrar ali na final, eventualmente numa semi. Em simples, você pega e assiste só o que acontece na central, praticamente. E isso pro esporte é muito ruim, a tv quando compra o direito de transmitir o torneio, como ela tem um público mais geral, ela vai querer mostrar os maiores jogadores, como Nadal e Federer. Mas acho que o fã tem que ter o direito de escolher o que ele quer assistir, e aí entra a plataforma da internet, o tennis tv, e você tem que ter a opção de escolha, mas não acontece. No simples também é assim, quantos jogos do Thomaz (Bellucci) você viu esse ano? Quase nada. Só passa jogos dele quando joga na central e isso é ruim. Porque você vai lá na televisão e só vê quando ele está na central. Numa semana você vê Thomaz Bellucci contra Berdych, aí ele perde. Daí dá três semanas e ele enfrenta o Nadal, perde de novo. Quando o Bellucci finalmente aparece na televisão, ele perde. No fim do ano, a pessoa que acompanha e vê esses caras do nível do Thomaz e do (Jarkko) Nieminen perdendo, elas pensam algo que não é. Ela vai e pensa ‘pô, sempre me dizem que o Thomaz e o Nieminen são grandes jogadores, mas eles só perdem”. Aí os outros 50 jogos do ano em que o cara joga bem ninguém transmitiu e ninguém está sabendo. O problema é bem maior, pensa que nas primeiras rodadas não dá para acompanhar praticamente nada. As duplas se encaixam aí. A partir do momento em que você consegue cobrir todas as quadras, o que não é uma coisa difícil, dá para fazer em todos os torneios. Cada torneio da semana tem três quadras, são só três quadras, não é difícil dar opção para o pessoal. A pessoa que comprou os direitos seleciona o que ela quer passar e isso não é certo. É difícil mudar porque envolve direitos de imagem, contratos e muita coisa do meio legal, tem que ser renegociado mas nós, do conselho, estamos tentando.

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Um comentário em “Sobre ATP, transmissão de jogos e a eterna frustração

  1. Olá, Aliny. Você que é bem antenada sobre tudo a que se refere o tênis, poderia matar a minha curiosidade e de tantos outros amantes desse esporte. Por exemplo, qual o valor líquido que um tenista Top 1 do mundo ganha para exibição e quanto as premiações em Grand Slam, nos valores atuais. Existem descontos e quais são eles? E quanto aos técnicos… quanto ganham dos tenistas Top 10, claro que em média?É verdade que Federer já é bilionário? Os tenistas recebem mensalmente dos patrocinadores?Aliny, impressionante que são questões corriqueiras, mas que ninguém, responde. E finalizando, saberia me dizer quais serão ou qual será o canal que transmitirá o ATP 500 de DUBAI-2016?Sou fã declarada do Djokovic e não gostaria de perder a oportunidade de assisti-lo, erguendo pela quinta vez a Taça de Campeão. Sucesso Aliny….e Feliz 2016 !

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