Alguns dizem que não existe mística de Davis, por ser disputada todo ano, ao contrário dos Jogos Olímpicos, por exemplo, disputado de quatro em quatro anos. Que o formato atual está desgastado. Que muitos tenistas deixam de jogar a Davis por falta de interesse. Eu discordo. Não existe emoção maior em defender seu país, seja qual for a competição, e a Davis tem disso. Como bem disse Horia Tecau uma vez, ‘a vida é muito curta para não jogar pelo seu país’.
Há três pontos básicos para o sucesso:
1) Os tenistas gostam de defender seu país. Muitos deixam de jogar por problemas físicos ou de calendário, o que é plausível e não envolve a tal falta de interesse. Vemos as grandes estrelas tratando a Davis como um dos grandes objetivos do ano.
2) A união entre os grupos. O tênis, por ser um esporte individual, não nos permite ver com frequência os tenistas de um mesmo país reunidos, se apoiando, jogando e se divertindo juntos.
3) O público, seja de qualquer país, possui uma cultura esportiva de se interessar por outros esportes que não o principal de seu país através da presença de atletas nacionais. Não há nada melhor para isso do que competições por equipes, para que o público novo conheça os melhores atletas de seu país de diferentes modalidades através do próprio evento ou de transmissão televisiva.
Há outras coisas que me encantam na Davis. Eu, pessoalmente, sou apaixonada pelo segundo dia. É o dia das duplas e somente duplas. O mundo inteiro para e assiste duplas, com seu país dependendo daquele ponto para fechar o confronto, sair na frente ou continuar vivo e tentar uma virada. Neste Brasil x Espanha, o sábado foi o dia mais lotado, visualmente falando. Amo assistir confrontos dos zonais, com grandes tenistas, às vezes as únicas estrelas do país, tentando salvar seu país de um rebaixamento e sendo os heróis locais. Há, de uma certa forma, uma promoção dos duplistas nacionalmente.

Falando em virar herói, é o que vemos ao fim de cada confronto de Davis. Os jogadores simplesmente se transformam em mitos. Imaginem o que passou na cabeça de Thomaz Bellucci, que já foi vaiado pelo Ginásio do Ibirapuera inteiro quando disputou o Brasil Open, agora sendo ovacionado, com gritos de ‘ole ole ole olá, Thomaz, Thomaz’ ecoando pelo ginásio inteiro. Bellucci, ao fechar o confronto para o Brasil, ficou sem palavras na entrevista pós-jogo, visivelmente emocionado.

Há também o ganho de experiência dos jovens tenistas. Muitos têm a oportunidade de jogar um confronto, outros ajudam nos treinos e torcem de pertinho. Dos dois modos, a emoção de representar seu país está ali. Borna Coric, croata de 17 anos, já teve a oportunidade de jogar pela Croácia em três confrontos, sendo uma delas derrotando o gigante polonês Jerzy Janowicz fora de casa, feito que até hoje é lembrado em seu país.
E bem, tem a torcida. Não há nada mais especial que torcida de Copa Davis. O tênis, esporte tradicionalmente silencioso, sai do comum e ganha cornetas, instrumentos musicais, cantos de torcida e muitos gritos de incentivo. Em São Paulo, pude notar torcidas organizadas de pequenas cidades do interior, além dos familiares dos tenistas ali, em grandes grupos, incentivando seus entes queridos. Houve também muitas cornetas, pandeiros ou qualquer tipo de barulho, com o que dava para fazer, para empurrar o país. A torcida é como um quinto jogador da equipe e sempre está lá, jogando junto.

De uma maneira ou de outra, vemos todas essas histórias se repetindo em cada confronto de Copa Davis, pelos melhores três dias de cada época. E há quem diga que o formato está desgastado.
Concordo com tudo 🙂
Mas o que mais me encanta na Davis é justamente que todos esses ingredientes que você mencionou se juntam pra revolucionar totalmente a lógica tenística que a gente está acostumado a ver. Brasil melhor que a Espanha? Onde? Fala sério, né? Pois na Davis é possível.
Na Davis tudo é possível, porque tem mais raça, tem mais coração, tem mais torcida, tem um impoderável que se sobrepõe ao mais forte, ao mais rápido, ao melhor rankeado. A Davis deixa a gente sonhar. E acho que é por isso que a gente nunca vai deixar de amar a Davis.