Uma semana atrás o duplista alemão Gero Kretschmer compartilhou em seu facebook a insatisfação com o challenger de São Paulo e a ATP. Ao lado de seu parceiro e compatriota Alex Satschko, Kretschmer foi campeão do challenger 125 mil, a maior categoria entre os challengers, tendo direito à premiação de 3875 dólares cada. O problema é que esse dinheiro jamais chegou nos alemães, assim como o resto dos tenistas que disputaram o torneio.
“Ninguém conseguiu receber a premiação até agora. A única coisa que conseguimos foi um reembolso de mil dólares, todos receberam. É bacana para nós e tudo mais, mas não faz sentido algum se você considerar que tinha tenistas sul-americanos disputando o torneio, com um custo de viagem muito menor e até perdendo na primeira rodada. Ou seja, gastaram menos, tinham direito a uma premiação muito menor que mil dólares e mesmo assim receberam os mil dólares. A ATP nem pensou em dividir esse dinheiro corretamente entre os tenistas, simplesmente deram os mil dólares na mão de cada um e ficou por isso”, declarou o alemão, indignado com a situação.
Coincidentemente, 2014 foi a última edição do challenger que abria a temporada, não sendo mais disputado desde então justamente por problemas financeiros. “O torneio precisa ter certeza que terá o dinheiro dos patrocinadores para repassar para a ATP uma semana antes do torneio começar. Nesse caso, eles não tinham, então a ATP fez uma exceção e disse que eles poderiam repassar durante ou depois do torneio, o que não aconteceu”, contou Kretschmer. “Isso já aconteceu no passado em um challenger lá na Alemanha, pelo o que me disseram. O torneio não pagou e os tenistas foram ao tribunal para exigir seus direitos. Lá as leis são diferentes e eventualmente foram pagos, coisa de meio ano depois, mas em São Paulo, não”, continuou.
Após várias tentativas de conseguir seu dinheiro de volta através da ATP, o alemão ainda tem esperanças, mas está desanimado com a situação. “Tentei falar com todas as pessoas responsáveis na ATP, inclusive com o presidente. Liguei, mandei mensagens, emails e em todas as vezes recebi respostas parecidas: que eles estavam vendo uma solução, tentando falar com o diretor do torneio, tentando conseguir o dinheiro… é sempre a mesma resposta. Então é, nada mudou após dois anos”, disse o campeão de 2015 do ATP 250 de Quito.
“O diretor do torneio não pode realizar outra edição enquanto não pagar o que deve a todos. A ATP me disse que ele está interessado em organizar outro torneio, já que trabalhou com isso por 20 anos, então ele precisa pagar antes de voltar a ter um torneio e isso me dá um pouco de esperança… Só que também escutei que esse torneio em que ele está interessado em fazer é da WTA, e isso estaria fora do alcance da ATP, então é, ainda me preocupa”, falou o alemão sobre Juliano Tavares, diretor do challenger e dono da JT Empreendimentos. “Essa edição que joguei era pra ser, sei lá, um 35 mil, duas semanas antes do torneio virou um 125 mil e uma semana antes eles não tinham o dinheiro. A história é muito estranha”, completou.
3875 dólares parece pouco dinheiro quando vemos as enormes premiações dos maiores torneios do mundo, mas não é para um duplista que figura na 98ª posição do ranking e que disputa challengers na maior parte da temporada. Com pouco mais de 182 mil dólares recebidos em seus 12 anos como profissional, Kretschmer desabafou: “Se você é top 100 em simples e top 60 ou 70 nas duplas você realmente consegue começar a viver de tênis. Qualquer coisa abaixo disso você começa a pagar pra jogar e até perde dinheiro. Sou um duplista top 100 há dois anos e é muito difícil viver disso. Você investe muito, você paga… Felizmente existe a hospitalidade, então você não paga pelo hotel, mas ainda sim paga pelas passagens, pelo encordoamento da raquete… E se você precisa viajar pra fora da Europa, que foi o meu caso, a passagem fica bem mais cara. Eu tenho que pagar as contas em casa e há também aquelas semanas em que você perde cedo e faz apenas alguns punhados de dólares, então esse dinheiro das vitórias é como se fosse um investimento pra essas situações. Em São Paulo eu ganhei o torneio e não consegui esse dinheiro.”
O duplista também lembrou das recentes denúncias de apostas no tênis. “Veja o meu caso, eu não tenho garantia de receber a premiação de um grande challenger que ganhei. Por isso as apostas acontecem mais fácil e com mais frequência nos níveis mais baixos, você praticamente tem que pagar para trabalhar, precisa sustentar a família, então sim, com certeza é mais perigoso para os de ranking mais baixo”, finalizou o alemão, alertando a suscetibilidade das apostas nos menores níveis.